As Laranjas da Carregueira: Memórias, História e Sabor Bem Português
As minhas laranjas são da Carregueira, no Ribatejo. Muito antes de as laranjas do Algarve se tornarem famosas, as da minha terra — doces e sumarentas — já eram bem conhecidas em Lisboa. Os meus pais tinham um pomar, e a minha mãe cuidava das laranjeiras durante o ano inteiro. Quando chegava dezembro, apareciam os intermediários do Fundão, que compravam a laranja “a olho” — olhavam para o pomar e ofereciam um valor muitas vezes injusto por toda a produção.
Hoje, esses intermediários são as grandes cadeias de supermercados. E com os preços baixos e o trabalho que dá manter os pomares, quase todas as laranjeiras da Carregueira desapareceram.
Uma pena!
A História da Laranja
A laranja é uma das frutas mais consumidas e apreciadas em todo o mundo. A sua origem remonta a mais de 4.000 anos, nas regiões do sul da China, norte da Índia e Vietname.
Existem duas variedades principais:
- Laranja amarga (Citrus aurantium), trazida para a Europa pelos árabes no século X
- Laranja doce (Citrus sinensis), introduzida pelos portugueses no século XV durante os Descobrimentos
A influência de Portugal foi tão marcante que em muitas línguas a palavra “laranja” deriva de “Portugal” — como em portakal (turco) ou portokáli (grego).
A Laranja em Portugal
Hoje, o Algarve é a região mais conhecida pelas suas laranjas, com Indicação Geográfica Protegida desde 1994. Mas outras regiões como o Ribatejo, com tradições mais antigas, continuam a ser símbolo da qualidade e da memória rural portuguesa.
Além de ser rica em vitamina C, a laranja representa saúde, frescura e hospitalidade. No passado era artigo de luxo e a flor de laranjeira continua a simbolizar pureza, sendo usada em cerimónias de casamento.
Um Fruto Com História
Com variedades como a Baía, Espinho, Pera ou Sanguínea, a laranja está presente no dia a dia dos portugueses — seja ao natural, em sumos ou em doces tradicionais.
A história da laranja é a prova de como um simples fruto pode atravessar continentes, marcar culturas e alimentar memórias de infância, como as que trago da minha Carregueira.