Molho de laranja para petiscar palitos de legumes
O molho de laranja é uma coisa que eu inventei por estarmos outra vez na época das laranjas. Das laranjas da baía, das laranjas de espinho, das laranjas dalmau, das tângeras, das tangerinas, das clementinas, das marroquinas, das sanguíneas e das outras.
Na Carregueira, no Ribatejo, as terras são de areia finíssima e as temperaturas vão dos 35/40 graus no verão aos -2/5 graus durante a noite no inverno. De manhã cedo, os campos estão todos brancos, cobertos de geada (provavelmente esta será a temperatura ideal para a produção de citrinos). Foi nesta aldeia que desde miúdo, nas férias e aos fins-de-semana, cresci rodeado de pomares de laranjeiras.
As laranjeiras mais antigas eram, e ainda são, as de espinho, que assim se chamam, não por serem de Espinho mas porque a árvore nos seus troncos é como a roseira, cheia de espinhos, e as laranjas com caroços são assim uma espécie de laranja brava. Normalmente estas laranjeiras atingiam alguns metros de altura e as laranjas que ficavam por cima eram muito complicadas de apanhar. Era com estas laranjas que a minha mãe fazia o sumo.
Bem diferentes são as da baía e, mais recentes, as dalmau, que se distinguem das de espinho pelo cu que mais parece um umbigo. Não têm caroços, muito doces, e de casca fina até gear, depois costumam ficar com sobretudo (a casca fica muito grossa e perdem um pouco o sumo).
O meu pai tinha a mania que percebia de agricultura e como tinha um terreno resolveu transformá-lo num pomar de laranjeiras, para fazer negócio com as ditas. Acabava por gastar mais do que ganhava, ontem como hoje quem ganha são os intermediários, que neste caso eram da zona do Fundão e vinham nas camionetas comprar os pomares. O negócio era desigual: dum lado o laranjeiro (negociante nato), do outro o meu pai que achava que negociava muito bem mas que acabava sempre enganado, não ouvindo a opinião da minha mãe e vendendo todas as laranjas do pomar à vista, este era o termo usado na venda. O meu pai dava uma volta com o comprador que, depois de dar uma vista de olhos pelo pomar, fazia normalmente uma proposta quase ridícula. Ao fim de alguma discussão lá chegavam a acordo e o meu pai embarcava no negócio dizendo sempre que no ano seguinte não era enganado.
A alternativa era Lisboa. No mercado da Ribeira Velha, em frente à Ribeira Nova, do outro lado da linha, junto ao Tejo, ganhava-se mais mas, como em tudo, a margem de risco era maior. Tinha de apanhar a fruta, encaixotá-la e despachá-la para um intermediário que a ia vendendo às caixas, pagava só algum tempo depois e que nem sempre vendia a fruta toda.
Tudo isto se passava há cerca de 40 anos, hoje provavelmente o negócio da fruta não será muito diferente.
Ingredientes
- Laranja - 4 rodelas
- Dentes de Alho - 3
- Mostarda - 1 colher de sopa
- Azeite - q.b
- Sal - q.b
Instruções
Num copo misturador coloque as rodelas de laranja com a casca mas sem os caroços, os dentes de alho cortados grosseiramente, a mostarda, o azeite e o sal.
Coloque a varinha no máximo e, sem fazer grandes movimentos, espere que o molho engrosse como uma maionese.
Corte uma cenoura aos palitos ou frite umas cascas de batata.
Ponha o molho numa taça gira e use as cenouras e as cascas como palitos para comer o molho.
É uma ótima entrada este molho de laranja!
Veja a foto da receita: